Não há
um motivo apenas, mas podemos dizer que ele nos estabelece como criadores, nos
estabelece como militantes e nos movimenta. Precisamos dizer que o poder público
local hoje tenta nos massacrar. Tenta ocultar a nossa presença como se fosse
possível apagar a própria história. Fazemos parte da construção cultural do
Alto Tietê e aqui colocamos nossa bagagem e aqui temos o interesse de preservar
nossas ações. Realizá-lo possibilita um reforço nesse enfrentamento e na nossa
própria (re)existência. É para seguir o fluxo do rio, do diálogo com grupos
periféricos, grupos que construíram sua identidade em cidades “ausentes”.
Grupos que fortaleceram pesquisas em terras secas, que respiraram e saltaram as
pedras do caminho. Olhamos para estes grupos artísticos e criamos juntos o
assentamento simbólico. Este festival cria redes colaborativas, cria ponte e
travessia, cria fortalecimento nas mesmas posições e no enfrentamento histórico
com os poderes. Não é um festival apenas de atrações - embora também cumpra
esta função – mas, sobretudo, um encontro de luta, de potência, de força, e acúmulo
de energia. É também para criar demarcações e ocupação no próprio território em
que vivemos. É para ocupar cantos da cidade e da região do Alto Tietê. É para
fortalecer os grupos locais. Faremos este festival mesmo sem recursos, contando
com a generosidade e o apoio de outros fazedores porque acreditamos na sua força.
Queremos contribuir para o giro dos grupos. Queremos contribuir para que haja
circulação para além das capitais. Queremos o encontro, porque em nós, é o
grande sentido de fazer o que fazemos há tantos anos. O encontro é o que nos
faz saltar.
Cleiton Pereira,
Contadores de Mentira.